domingo, 11 de janeiro de 2009

Rifa-se Um Coração


Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque
que insiste em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração
que na realidade está um pouco usado, meio calejado,
muito machucado e que teima em alimentar sonhos
e cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente
que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia estava certo quando
escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu
espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz,
sendo simples e natural.
Um coração insensato
que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida
que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração
que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos
que quase dá pra engolir as orelhas,
mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.

Um órgão abestado
indicado apenas para quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida
matando o tempo,
defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração
tão inocente que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro
na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir.
Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer
e se recusa a envelhecer"

Rifa-se um coração,
ou mesmo troca-se por outro
que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos
que mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.

Um velho coração
que convence seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a
petulância de se aventurar como poeta.

CLARICE LISPECTOR

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Alguma Certeza?


"Hoje já não tenho certeza de nada...Minhas pernas caminham em silêncio e sem destino, minhas palavras estão todas dentro de mim, meu coração bate descompasadamente, ainda não consegui dormir, e por mais que eu tente, hoje não será possivel, hoje e algumas noites atrás. Sinto dor por todo o meu corpo, meus pés estão feridos, minhas mãos já não sentem mais nada.
Meus lábios estão secos, minha pele esta queimada do frio que esta fazendo nessa manhã de sábado, e por mais que eu tente mudar as coisas, sei que isso não será possível, não agora, não hoje, e por mais que minhas mãos não consigam escrever, tremulo algumas letras e os garranjos começam a aparecer. Poderia ter sido tudo diferente, claro, e como poderia sim! Mas infelizmente não é, e nem esta sendo.
Meu coração está despeçado e falta-me o ar. Por mais que ele entre pelos meus pulmões ainda sadios, não os sinto dentro de mim. Mas é claro que isso acontece com todos, sim, todos, inclusive comigo.
E eu tinha uma certeza em minha vida. Que um dia seria realmente feliz! Mas o destino sempre me prova o contrário, sempre me dizendo, além de deixar bastante claro que isso não será possivel em minha vida. E por mais que meus pensamentos me digam que tudo vai ficar bem, sinto que as palavras se perdem e se esvaiem sem direção, sem emoção.
E fecho claro, os olhos para a realidade que me faz calar, mesmo tendo-as dentro de mim. E sei que um dia as coisas irão melhorar, só não se esse dia irá chegar e nem sei quando que isso irá ocorrer. Mas sou paciente, consigo esperar, mesmo faltando-me o ar.
E hoje caminho pela estrada, sabendo que uma parte de mim se vai e a outra continua sentada na cadeira de balanço da minha varanda.
Sempre a esperar....
Esperar por alguma certeza que um dia virá!